Durante uma sessão de terapia, me deparei com a pergunta vinda dela: “E o que VOCÊ quer?”

Claro que o contexto era uma sessão em que eu falava 80% das vezes sobre como eu pensava no outro, ou reagia às pressões do outro comigo ou o quanto deveria atender a expectativa do outro em várias esferas da minha vida.

De fato, passamos tempos olhando redes sociais e pensando sobre como queríamos ter, a barriga de fulana, o dinheiro de beltrana ou ainda o namoro da outra. Sim, a gente começa a criar um universo de fantasias sobre uma vida possivelmente perfeita. Ao mesmo tempo, escutamos pessoas papeando com a gente e sobre a gente, de modo a falarem coisas como: “mas você daria ótima médica” ou “nossa, porque você não investe na internet? cria um canal!” ou ainda “Faz isso. Fulano tá ganhando muito dinheiro!”. E no final, você fica se comparando, perdida no que quer seguir ou no que realmente quer pra sua vida amorosa.

Quando esse tipo de situação acontece, você entra numa de “se incomodar” com quem está alcançando coisas (que você idealiza) e começa a: criticar, apontar, arranjar algum motivo pra se afastar ou desfazer laços. 

Notou que isso tudo pode acontecer porque você ficou querendo suprir desejos dos outros e não parou para ouvir o que você realmente quer (#escravidãoContemporânea). SERÁ, realmente, que você quer uma barriga chapada ou você quer mostrar isso pro mundo e se sentir desejada porque sempre teve dificuldade nos relacionamentos? Ou SERÁ que você quer o dinheiro para viajar e mostrar que você pode ir para lugares onde o outro não pode e se sentir poderosa com isso, como forma de suprir uma história de rejeição de amigos, namorados e até mesmo de seus pais?

Conselho: pensa se você não está vivendo um personagem. Pensa se você não tá correndo atrás do rabo e tem gente de cima olhando e pensando que isso era o melhor pra você – ser uma marionete do desejo dos outros.

Aquela sessão pra mim foi libertadora. Lembro dessa quarta (de 2018) como se fosse ontem: cafézinho na mão, as 14h, com um blusão largo, só de short, escutando “I can see clearly now”  do Jimmy cliff e pensando:

…é verdade, nunca me perguntei o que eu queria. Nunca tive oportunidade nessa correria que foi a vida. (Eu ri de alívio)

Que bom que alguém me despertou isso: abriu a porta da gaiola para eu voar.

Não ter que atender expectativas dá uma sensação de leveza…

Eu sorri com todos os dentes e pensei: tem tanta gente presa e eu tive o presente de agora ser livre.

É, viver pra mim mesma é ser eternamente livre.

 

Foto: (Emily in Paris/Netflix/Reprodução)