A inquietude da volta de saturno me fez não me reconhecer mais. Parece que num dado momento, a gente precisa fazer um detox de nós mesmos com objetivo de clarificar pontos que não conseguimos acessar na correria.

Então eu fiz isso. Parei. Fiquei sozinha. E conversei comigo mesma, num diálogo mais ou menos assim:

” Amiga, já passamos por tanto né? Lembro do tempo que você só queria ser pertencida, amada e reconhecida. Lembro daqueles momentos em que você chorava escondida com medo de que alguém pudesse te taxar como “fraca” e quebrar toda a imagem de força que você construiu como modo de defesa. É engraçado porque essa sua obsessão em ” não se permitir” te afastou de conflitos, pessoas e experiências que seriam necessárias para aquela idade e, como um furacão ansioso pelo futuro, você deixou passar e ficou sem histórias para contar. Rs A gente sabe das consequências disso: a adolescente continuou viva se apegando às dores da época e fazendo de tudo para sublimá-las. Mas, como um pai que sabe da sua necessidade para sobreviver, o UNIVERSO resolveu te cobrar essa passagem. Daí você sofreu por pequenas ondas que pareciam ser uma tempestade. Gritava de madrugada por paz, quando na verdade nunca a viveu de verdade. E ficou nessa por um tempo. Até que entendeu a necessidade de olhar pra si e se despedir de situações que não condizem mais. Como uma adulta, ainda se isolava com um saquinho de M&M olhando pros lados, comendo compulsivamente cada um deles como se aquelas cores fossem trazer uma alegria, diante dos problemas. Rs. Até que você percebeu que tudo à sua volta já estava com cor e que o que ainda restava de cinza aí dentro, deveria sair. Foi quando, num ato emocional, você se perdoou e deixou as dores para trás. O vento levou o pó das tristezas e dores da primeira parte da juventude e, com isso, você se tornou uma mulher. Talvez tenhamos que fazer isso de vez em quando: reunir tudo que já não cabe mais e jogar fora, a fim de ter liberdade por dentro. Dar espaço, sabe? Espaço pra luz entrar e te fazer entender que a vida é mais que as cicatrizes do que foi ruim. Agora adulta, você entendeu que ser feliz não são só momentos felizes. Mas sim não deixar que tudo que foi ruim, ultrapasse a alegria de tudo que você viveu e há de viver. Nada é definitivo. Nada é capaz de tirar seu brilho. É estar numa balança entre o que foi e o que será. Sempre foi sobre equilíbrio. Sempre!”

Foi ali que eu notei que tinha aprendido a ser adulta e a não alimentar feridas de jovem.

Quando eu percebi, já tinha novos hábitos, novos sonhos e novas experiências.

Deixar meu eu de antigamente para trás, me tirou um peso de tudo que eu tentava curar, dando espaço para tudo de novo que há de vir. É tipo quando a gente abre nosso armário e doa algumas roupas: algumas coisas não cabem mais, então a gente se livra delas para que novas peças possam entrar e fazer a gente ter novas histórias.

E foi assim….que eu escutei a vozinha dizendo: sabia que você tá livre?

…agora to leve e esvaziada.

 

Imagem: (And Just Like That/ HBO Max/ Reprodução)