Decidi começar minha trajetória partindo do momento em que me encontro. Completei quatro décadas da minha existência e o ciclo da loba, a que me refiro no título deste texto, se encaixa nesse momento da minha vida – a perimenopausa. Como alguém, que acessa essas informações do universo feminino, talvez fosse de se esperar que a percepção da chegada desse período, associada à “idade da loba”, fosse facilmente percebida. Mas só me dei conta quando me deparei com os níveis hormonais descritos em números, que ela havia chegado a mim. É claro que a estranheza com meu corpo, a sensibilidade à flor da pele, os questionamentos sobre a minha vida, quase como quando era adolescente, me fizeram despertar para uma nova fase dos muitos ciclos da minha existência feminina.

Diante disto, comecei a pensar nos ciclos femininos e a relação deles com as passagens da vida e que as mudanças não se limitam às formas físicas, mas sim às psíquicas e comportamentais e o grande desafio de colocar a sensibilidade do feminino dentro do cotidiano, transformando esse rito de passagem como uma oportunidade. Para entender esse novo momento de vida, de um corpo se modificando novamente, fui, como se estivesse mapeando, buscar na história de algumas culturas como os marcos da vida feminina eram celebrados – da menina para a jovem com a chegada da menarca, da jovem para a mulher adulta/mãe com a maternidade e da mulher adulta para a anciã com o fim do período reprodutivo – o climatério/menopausa.

Nestas fases de transformação, há um “luto” e os arquétipos da donzela, mãe e anciã são compreendidos com a chegada do sangue. A infância da menina dá lugar à menstruação e com ela surge um novo lugar de interação com o mundo fazendo a lente que enxerga o outro mudar completamente. A fase adulta é marcada pela maternidade, que na minha trajetória feminina veio tardia para as mulheres da minha geração, mas no tempo certo pra mim. As mudanças dessa vez me deram vida, luz e um desacelerar sobre tudo que antes considerava importante. A transformação agora era para além da forma física. Estava me despedindo da mulher que era e me preparando para renascer em vida com a chegada de uma nova vida, ou não (mas, isso é assunto para outra pauta). Então, eis que chega o puerpério.

O puerpério é um “luto concreto” é um esvaziamento completo para dar espaço a uma nova mulher. Existe uma nova forma de viver a vida e o corpo físico, que antes tomava um espaço do sagrado por estar gerando um novo ser, dá lugar a um corpo novamente transformado, estranho ao reflexo no espelho. A despedida se faz presente e mais uma vez a mulher se depara com um novo ciclo.

Esses são os mistérios do sangue, onde tudo que envolvem eles só pode ser descrito por quem vivenciou. Perda da infância para a jovem que menstrua, da jovem que se despede para dar lugar a mulher adulta, a mulher adulta que gera uma nova vida a despeito da sua “liberdade” e que se despede da mulher que era antes da maternidade e a mulher/mãe que dá lugar a anciã. De todas essas fases femininas, talvez o puerpério e a menopausa sejam os períodos mais difíceis porque são corpos não desejáveis, uma vez que as demais fases trazem o benefício do desejo.

Estou vivendo uma metamorfose, me preparando para ir ao encontro da anciã que espero me tornar e devolver ao mundo aquilo que desenvolvi de autenticidade como Ser no mundo. O horizonte da vida se aproxima e espero na ciclicidade feminina uma oportunidade de recolhimento e pausa, honrando espaços importantes da essência feminina. É o que desejo a você, cara leitora, que assim como eu, possa vivenciar plenamente cada ciclo feminino, respeitando, consagrando e honrando sua feminilidade e compreendendo que não há fracasso, mas sim desenvolvimento nessa caminhada.

Dica de Leitura: Mulheres que correm com lobos

 

 

(Imagem: La Luna Alchemy)